11 de Dezembro de 2024 | Coimbra
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1930-1939: Coimbra cresce a vários níveis

21 de Setembro 2018

A fundação d’ A Previdência, a inauguração do Palácio da Justiça, os melhoramentos no Choupal, a criação da Casa dos Pobres e a abertura da praia artificial são alguns dos acontecimentos que marcaram a década de 30 do século XX na cidade de Coimbra. Nas páginas d’ “O Despertar” acompanha-se o desenvolvimento destas e de outras temáticas, ao mesmo tempo que se vão “reivindicando” outros projetos que são considerados importantes para a cidade.

A fundação d’ A Previdência Portuguesa, nova associação que surge em Coimbra, foi anunciada em fevereiro de 1930. Este seria um dos melhoramentos anunciados para a cidade, aos quais se juntariam muitos outros.

O Choupal é um dos temas muito abordados nos primeiros anos da década de 30. Em dezembro de 1930 anuncia-se nova reunião com a comissão responsável pelo espaço, com o intuito de debater o seu melhor aproveitamento. Já no ano seguinte, no final de setembro, anuncia-se que deverá estar para breve a apresentação do projeto com vista aos desejados melhoramentos, plano que acaba por ser aprovado em março de 1932. Os trabalhos iniciam-se no mês seguinte e, em agosto, surgem as primeiras notícias a elogiar o atual estado do Choupal, “muito limpo e conservado” e com “aspecto muito atraente”.

A cidade de Coimbra, no seu todo, merece também rasgados elogios, pelo seu desenvolvimento e pelos melhoramentos que vão sendo realizados. Em agosto de 1930 enaltece-se o crescimento do turismo, assumindo-se Coimbra como um “centro de atração para excursões vindas de todo o país” e, em agosto de 1934, fala-se de Coimbra como um “centro de excursões”, sendo a cidade muito visitada por “nacionais e estrangeiros”, sobretudo espanhóis e franceses.

A nível interno anuncia-se, no mesmo mês, para breve, o início dos trabalhos de mosaico e de azulejo nos terrenos da parte ajardinada e moderna do Penedo da Saudade e felicitam-se os novos bairros da cidade. “Nota-se com satisfação que prosseguem as edificações nos novos bairros da cidade, num crescendo rápido e verdadeiramente surpreendente. No Lugar Novo, na Cruz de Celas, nos Olivais, na Cumiada, na Conchada e em Montes Claros essas edificações são em bom número” – lê-se no jornal de 27 de agosto, edição visada pela censura o que era, aliás, frequente naquela época.

Em setembro elogia-se a iluminação pública – “A nossa terra pode bem orgulhar-se de ser hoje uma das mais bem iluminadas do país” e “a luz é clara e abundantíssima”…

Também as novas instalações do Mercado Municipal D. Pedro V, recentemente inauguradas, merecem a aprovação, já que pela sua “comodidade e decência dão aquele local, principalmente aos artigos á venda, um tom de realce que muito concorre para alterar a pobreza da parte antiga do Mercado”.

Já em 1931, em março, o destaque vai para a inauguração da nova estação ferroviária de Coimbra, edifício “moderno e bastante amplo, que veio substituir o mesquinho pardieiro que desde 1888 existia nesta cidade”.

Coimbra afirma-se a nível nacional

Enaltece-se também o desenvolvimento a nível da construção e dá-se conta que “Coimbra é talvez das terras portuguesas, exceptuando Lisboa e Porto, aquela onde mais prédios se teem construído nos últimos dez anos”.

Também a nível dos transportes se registam grandes mudanças e enaltece-se a “facilidade com que, presentemente, nos deslocamos de um ponto ao outro do país, vencendo em poucas horas, distâncias que, noutros tempos, levariam dias a percorrer…”.

O progresso parece ser evidente e considera-se que Coimbra é “incontestavelmente uma das terras do país que mais tem progredido nos últimos tempos.

Já em 1932, em janeiro apela-se à recuperação dos Arcos do Jardim; em março fala-se dos melhoramentos do Parque Santa Cruz; em abril prepara-se o terrreno na Avenida Sá da Bandeira para a construção do monumento de homenagem aos mortos da Grande Guerra; em agosto fala-se dos trabalhos na Rua da Sofia; e em outubro noticia-se o avanço das obras de construção do novo edifício dos correios.

Requalificação da Baixa muito desejada

No ano de 1933, logo em janeiro, defendem-se alterações na Baixa. Num texto assinanto por Adolfo de Freitas, diz-se que “se torna indispensável arraza-la quer como obra de saneamento moral quer como medida de preservação anti-tuberculosa”. Adianta ainda que “os jardins, as alamedas e os miradouros com todo o seu cenário de flores adorantes são, sem dúvida, precisos e falam de uma sensibilidade e cultura colectiva digna de registo”.

Já anteriormente, na edição de 10 de dezembro de 1930, se falava, “com certa insistência”, na necessidade de “modernizar o velho e tortuoso Bairro Baixo da cidade, construindo-se em seu lugar um bairro moderno, cheio de luz e vida, com casas elegantes e adaptáveis aos vivos em vez dos antigos e pardieiros que hoje ali existem”.

O desenvolvimento é sempre desejado e, nesse sentido, marcam ainda esse ano de 1933 os frequentes elogios ao trabalho que a Comissão de Turismo tem vindo a desenvolver. Anunciam-se as obras de valorização nos Olivais, esse “tão conhecido e visitado recinto dos arrebades de Coimbra”, bem como a perda de um dos seus “mais poéticos arrebaldes” – o pinhal. Na Universidade foi adjudicada a restauração da Porta Férrea e, em dezembro, foi inaugurado um albergue noturno, no Asilo da Mendicidade, e noticia-se que, depois da intervençao nos jardins, a Comissão de Turismo vai avançar para outros restauros, como miradouros e esplanadas.

Casa dos Pobres: da ideia à obra

A ideia de abrir em Coimbra uma Casa dos Pobres, que possa dar resposta e ajudar a enfrentar a questão da mendicidade, surge em abril de 1934. Na edição do dia 14 noticia-se uma reunião sobre este tema que, a 6 de junho, surge novamente em destaque, sendo anunciado como “uma grande obra de beneficência”. O início das obras de adaptação no edifício no Pátio da Inquisição destinado à Casa dos Pobras é anunciado a 18 de agosto, dando-se conta que “o problema da mendicidade está, em Coimbra, em vias de solução…”.

A Casa dos Pobres permanece em destaque nas páginas deste jornal – como tem aliás sucedido até aos dias de hoje – e, a 16 de janeiro de 1935, anuncia-se para breve a sua abertura, certeza que é reafirmada a 16 de março, onde se lê que “pouco falta, já, para que das nossas ruas desparareçam os ‘pobres de pedir’”. A Casa dos Pobres abre a 8 de maio daquele ano, assumindo-se como uma grande obra de assistência.

É também em 1934 que abre outra obra importante na cidade – o Palácio da Justiça. A 9 de maio é noticiada a sua inauguração, cerimónia presidida por Manuel Rodrigues, “ilustre ministro da Justiça”.

A criação de uma escola de Belas Artes em Coimbra, “terra de artistas”, é desejada na cidade, numa altura em que são também notícia o grande número de novas construções urbanas que andam em obras em vários pontos da cidade e que se anuncia, para breve, o surgimento em Coimbra de um novo hotel, o Internacional Hotel, que ficará situado na Avenida Navarro.

Praia artificial” conquista conimbricenses

As inundações em Coimbra e os seus prejuízos marcam o início de 1935 (e também de 1936), bem como a derrocada da Torre de Santa Cruz. Já no verão o destaque vai para a “praia fluvial”, tema que é abordado em várias edições. A 3 de agosto lamenta-se que “tendo o Mondego a seus pés”, Coimbra “não tenha um espaço apropriado para banhos” e diz-se que se vai “fazer a experiência com a Praia do Mondego”.

A inauguração da “praia artificial” é notícia a 7 de agosto, onde se lê que “milhares e milhares de pessoas, num manifesto de contentamento, ocorreram ás imediações da ‘praia’ a tecer os mais louváveis e patrióticos encómios a todos aqueles que concorreram para que a construção do importante melhoramento fosse, de facto, uma realidade”. Este tema mereceu destaque de uma página e foi noticia em edições e anos seguintes.

Já em 1936, a 2 de setembro elogia-se a Praia Fluvial do Mondego, que teve “o condão de modificar, completamente, o aspecto da vida desta cidade na estação calmosa: dando-lhe uma vida e uma animação bem diferentes das dos tempos em que nos meses de férias Coimbra parecia uma aldeia sataneja – abandonada de todos os seus elementos que dispunham de recursos financeiros para veraneios por termas e praias”.

Reparos e sugestões com vista ao desenvolvimento

Ao longo de todos estes anos, foram frequentes nas páginas de “O Despertar” os reparos e sugestões com vista ao desenvolvimento e à melhoria da qualidade de vida da cidade.

Apela-se à dignificação do Jardim da Manga (que poderá vir a receber um mercado de flores e frutas) e, posteriormente, enaltecem-se as obras de limpeza realizadas no histório jardim, “uma das relíquias do nosso património artístico”, bem como a sua classificação como “monumento nacional por um decreto republicado. Elogia-se a intervenção no Penedo da Saudade e no novo Mercado; critica-se o nome “Burreau” que a Comissão da Iniciativa Turística vai construir no local do antigo coreto, na Avenida Navarro; defende-se a criação de um Museu Académico em Coimbra, numa dependência da Universidade; alerta-se para a necessidade de haver em Coimbra “um ou mais lugares de recreio destinados às crianças”; apela-se aos conimbricenses para que apoiem os seus Bombeiros Voluntários que comemoram, em abril de 1939, as suas Bodas de Ouro; fala-se da necessidade de progesso em Vale de Canas, “aprazível estância de turismo”.

São ainda notícia as queixas sobre o sabor do pão; a Semana do Livro que traz ao Jardim da Cidade 13 stands; a mendicidade o desemprego (“esse desespero da vida moderna”); a luta contra o analfabetismo; a possível construção de uma piscina nos edifícios dos Hospitais da Universidade de Coimbra; o aniversário da República (nunca esquecido); os inúmeros acidentes de bicicleta ocorridos na cidade; o incêndio nas fábricas Triunfo; e a conquista da Taça de Portugal pela AAC ao Sport Lisboa e Benfica.

O atentado de que foi alvo o presidente do Conselho de Ministros, Dr. Oliveira Salazar, mereceu também especial destaque, na edição de 7 de julho de 1937. No mesmo ano dá-se ainda conta das obras do Estado Novo na cidade universitária e, em 1938, elogiam-se, mais uma vez, “os melhoramentos que Coimbra deve ao Estado Novo”.

Morte de Mário Henriques

A década de 30 é também de mudança para “O Despertar”. A doença de Mário Henriques é noticiada a 6 de outubro de 1934 e a 3 de novembro é com pesar que se anuncia o seu desaparecimento.

“Profundamente lamentada por todos os que o conheciam e que com êle privavam”, a sua morte é amplamente noticiada neste jornal que esteve suspenso por alguns dias, entre 13 de outubro e 3 de novembro.

O nome de António de Sousa surge, pela primeira vez, como administrador nesta edição, que marca também uma nova fase de “O Despertar”, que se passa a assumir “como porta-voz das povoações rurais”, abrindo uma secção destinada “a focar as necessidades urgentes de que carecem as povoações rurais, que circundam este torrão abençoado, Coimbra, que a Natureza bafejou, para ser a mais bela região de turismo, que nos encanta e envaidece”.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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