Continua este jornal o seu trajeto de excelência na imprensa. Ultrapassada a marca centenária – orgulho que comunga com um punhado de periódicos nacionais – vai já no segundo ano da sua caminhada rumo ao duplo centenário, demonstrando flexibilidade e adaptação às exigências de um novo tempo.
É por isso um jornal histórico e com muita história inscrita nas suas edições, que se fez a si próprio, não só pela persistência de proprietários, diretores e redatores, como os Henriques ou Sousas, mas também pela pena de dedicados colaboradores, em especial os que de forma pro bono alinharam em torno elenco editorial inicial.
Nem todos eram conimbricenses, mas todos se identificaram com a missão e valores do jornal, servindo a cidade e os seus interesses, as legitimas aspirações da população e tratando os problemas culturais, sociais e económicos, não só de Coimbra, mas também da Região e do País.
Entre os colaboradores iniciais, eventuais ou assíduos, identificam-se pessoas cultas e ligadas à universidade, colegiais, militares ou comerciantes: António Augusto Gonçalves, Augusto Mendes Simões de Castro, António Augusto de Miranda, Costa Pimpão, João de Deus Cunha, Luís Leitão, Artur Leite Braga, Mário Campos, Marco Túlio, Joaquim Ferreira, Alfredo Almeida Campos, Gambeta d’Almeida Gomes…
Os correspondentes nas localidades foram um elo muito importante na defesa dos interesses das comunidades que formam o município e região, divulgando as suas grandezas e misérias. Gostaríamos de destacar, nesta edição especial de aniversário de O Despertar, um colaborador muito especial, oriundo de Vilarinho (Brasfemes) cujo primeiro artigo data, precisamente, do ano da fundação do jornal – a 16/12/1917, com uma crítica artística à exposição do pintor Carlos Lobo.
Falamos de Lourenço Mário Campos Abranches, nascido a 10.07.1892, alfaiate de profissão, casado com Júlia Marques e pai de oito filhos, falecido a 17/01/1987, com 95 anos de idade. Filho de Jaime de Sá Esteves Abranches e de Maria José, teve como bisavô paterno, António Lopes de Sá Esteves, que ocupou o cargo de Administrador Central do Correio de Coimbra e foi Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Corajoso e revolucionário Republicano, Mário Campos, também opositor ao Estado Novo, foi perseguido, preso e torturado. Dedicou-se ao associativismo local, tendo pertencido, por exemplo, à Direção dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes, chegando a criar o primeiro Grupo Feminino de Primeiros Socorros, no Distrito de Coimbra, e dos primeiros do país.
Na qualidade de colaborador do jornal O Despertar, publicou artigos de temáticas diversas, expondo ao longo de 69 anos as várias realidades do quotidiano da sua freguesia, na secção de Correspondências-Vilarinho de Cima-Brasfemes: vida íntima, familiar, Guerra do Ultramar, política, costumes locais, associativismo e poder local.
Manuel Bontempo, o mais antigo colaborador do Despertar em atividade, manifestou, repetida e publicamente, o orgulho de ter sido seu amigo, qualificando-o como «um mundo aberto, um livro de muitas páginas (…) Enciclopédia de experiência revolucionária».
De facto, os artigos que deixou para memória futura nas páginas deste jornal – autêntica voz da freguesia ao longo do século XX – constituem um património cultural inestimável, que urge valorizar e salvaguardar, justificando uma digna e pública homenagem na sua terra, que una as gerações atuais e vindouras.