2 de março de 2017. Conseguimos! Cá estamos a celebrar hoje os 100 anos d’ “O Despertar”. Um século de notícias mas também de lutas, pela cidade, pelo bem estar das populações, pelo progresso e, por vezes, pela própria sobrevivência…
Resiliência foi uma das palavras que ouvi, por diversas vezes, ao longo do último ano. Uma palavra forte que, julgo, se adapta à própria história deste centenário jornal.
Desde a sua fundação, em 1917, que “O Despertar” é um exemplo de força, determinação e entrega. De lutas. Que demonstrou ser capaz de prosseguir mesmo depois de várias adversidades. Um jornal de causas, que travou batalhas e que uniu várias gerações sempre em defesa de Coimbra, da região e da sua gente. Uma voz firme na defesa do progresso e também, sempre que necessário, denunciadora e de alerta para aquilo que considerava não estar bem.
O abandono do Choupal, a necessidade de valorizar a Mata de Vale de Canas transformando-a em espaço de turismo, a necessidade de “dignificar” o Jardim da Manga e a degradação de vários espaços emblemáticos da cidade foram alguns dos muitos alertas feitos, trazidos à primeira página e alimentados, durante várias edições, até, por fim, se dar a boa nova dos necessários melhoramentos. E o jornal vibrava com eles. Tal como vibrava quando via concretizados muitos projetos que reivindicou como necessários e mesmo urgentes. E foram muitos os projetos que, antes de o serem, foram debatidos n’ “O Despertar”, como tive oportunidade de constatar ao percorrer cada um destes últimos cem anos de publicação ininterrupta.
Palco de ideias que incitava o debate, o jornal alertou, por exemplo, para a urgência de ter em Coimbra uma casa que pudesse ajudar a enfrentar a questão da mendicidade que tantas preocupações levantava. Nasce, algum tempo depois, a Casa dos Pobres de Coimbra, ao nosso lado, no Pátio da Inquisição, vizinho desejado que “O Despertar” sempre tem vindo a acarinhar. Foi também nestas páginas que se fez notar a importância que teria para Coimbra uma Praia Fluvial, que se sensibilizou para a necessidade urgente de um novo Mercado, que se lamentou a inexistência de uma Escola de Belas Artes, de um Museu Académico, de um Teatro-Cinema, de um Instituto Industrial e Comercial, de uma “feira de atividades” e, mesmo, de uma feira do livro, como as que se realizavam já em Lisboa e no Porto…
Mas, ao mesmo tempo que “exigia” também “batia palmas” aos feitos realizados, celebrando com a própria cidade cada nova conquista. Mais recentemente, já nos últimos anos do século XX, em 1989, o nosso Amigo e Colaborador Dr. Sansão Coelho escrevia que fazia falta em Coimbra uma Faculdade de Jornalismo. O curso surgiu poucos anos depois…
Muitos outros exemplos poderíamos deixar aqui hoje mas tornar-nos-íamos exaustivos. Quero apenas mostrar o “peso” que o jornal teve na cidade que sempre defendeu e o quanto por ela lutaram os seus sucessivos diretores e demais colaboradores.
Apesar de todas as dificuldades, dos muitos pedregulhos que teve que ultrapassar, das muitas perdas que abalaram a sua estrutura, “O Despertar” resistiu e cá estamos nós, hoje, a celebrar estes cem anos. Um motivo de grande orgulho e de muita emoção para mim que há mais de década e meia faço desta a minha segunda casa, para não dizer mesmo a continuidade da primeira, porque quando se sente e vive um projeto temos que o levar connosco para onde quer que vamos.
É um privilégio fazer parte desta família tão grande que é “O Despertar”. Neste momento de celebração, não posso deixar de recordar todos os Homens bons que trouxeram o jornal até nós, todos eles mas em especial aqueles com quem tive o prazer de trabalhar. O sr. Artur de Almeida e Sousa, o Dr. Fausto Correia e muitos dos nossos colaboradores que o tempo nos roubou antes do tempo, como o Dr. Mário Nunes, o Eduardo Mamede, o José Soares e o José Andrade.
Uma palavra de apreço também para os nossos Assinantes, por estarem sempre connosco, pelo apoio, amizade e também pelo carinho que têm pelo nosso jornal.
O meu obrigado também ao Dr. Lino Vinhal que, com a sua determinação e coragem, não deixou morrer este projeto, bem como a toda a incansável equipa – colaboradores, departamento comercial, paginação… – que, semanalmente, faz com que o jornal continue a chegar pontualmente aos nossos leitores.
“O Despertar” completa hoje 100 anos. Só podemos estar orgulhosos. Coimbra só pode sentir-se em festa. Espero que a cidade saiba orgulhar-se deste projeto, que o acarinhe e que o possa perfilhar como seu. Contamos convosco. Celebremos todos!
ZILDA MONTEIRO