Pouco se sabe da génese do Despertar. Mas conhece-se o seu DNA: era preciso que Portugal e Coimbra despertassem, de uma forma que não fosse partidária, colocasse o interesse geral acima dos particulares, se reunissem as forças que queriam o progresso e se saísse da “austera, apagada e vil tristeza” em que Portugal se afundava, por causa do caos político, da anarquia social, da decadência económica e dos abusos do partido então dominante, para não falar da 1.ª Grande Guerra.
Despertar é, todos o sabemos, um processo contínuo e nunca assegurado. Como as pessoas todos os dias despertam para depois terem de enfrentar os problemas que tantas vezes deixaram quando esgotados se deitaram na véspera a repousar, também os povos e as instituições sentem e vivem isso mesmo.
Portugal e Coimbra ao longo deste século (e eu já lhes conheço dois terços da história por experiência própria), muitas vezes despertaram para a seguir cair de novo; algumas vezes se iludiram com esperanças de recomeços que colapsaram pelos mesmos ou novos erros e enganos; quase sempre não aprenderam com as falhas e persistiram em tratar as consequências como causas: mas indómitos continuámos a ser e, sabe Deus de onde, novas ilusões, novos sonhos, novas energias, nova vontade nos fez voltar a despertar, povo e nação que se calhar merece sobreviver apesar de nós, os seus filhos.
“O Despertar” fez e faz parte dessa história. Umas vezes mais forte, outras mais frágil; enérgico, para a seguir como que entrar em letargia; à superfície ou mergulhando para voltar a brotar de penedos mais à frente; acertando ou errando. Mas sempre resistindo.
“O Despertar” merece estar vivo porque sobreviveu sempre, quando muitas vezes alguns mais céticos pensavam que não resistiria a tudo o que torna um jornal independente uma flor difícil aguentar as chuvas e os ventos.
Que venham mais 100!
JOSÉ MIGUEL JÚDICE (Advogado)